Ao longo dos anos atuando ao lado de líderes, uma pergunta sempre ressurge, com diferentes formas e em diferentes contextos:
Quando é hora de fazer acontecer com as próprias mãos e quando é hora de influenciar outros para que façam?
Essa tensão é parte da essência da liderança. Afinal, liderar não é apenas entregar resultado: é fazê-lo de forma sustentável, por meio das pessoas. E aí surge o dilema: agir diretamente ou influenciar o outro a agir?
Mas o que descobri com clareza, ao longo dos anos e principalmente com os dados gerados pela Winx em centenas de empresas, é que esse equilíbrio tem nome e métrica: confiança. E um dos seus indicadores mais sensíveis é a qualidade da prática de feedback dentro da organização.
O desequilíbrio das pontas
Há líderes que executam demais. Assumem tarefas que deveriam ser delegadas, microgerenciam, tomam decisões que outros poderiam tomar. São respeitados pela capacidade de entrega, mas criam equipes dependentes, pouco protagonistas.
Por outro lado, há líderes que influenciam demais, mas agem de menos. Não colocam mão na massa. Tornam-se retóricos, vivem no plano das ideias e esquecem que, em muitos momentos, é preciso descer à arena, tomar decisões duras, comprometer-se pessoalmente com as entregas. Falam muito sobre empoderar, mas se esquivam de arregaçar as mangas quando a situação exige.
O bom líder sabe alternar. E, acima de tudo, sabe que essa escolha está diretamente relacionada ao nível de confiança presente na equipe, que se fortalece, sobretudo, com práticas consistentes de feedback.
Confiança como régua de decisão
Confiança nos outros:
Quanto mais você confia na capacidade, no caráter e no comprometimento da sua equipe, mais espaço tem para influenciar em vez de executar. Você solta o leme, não por desinteresse, mas por confiança. A influência substitui a ação direta quando você acredita que o outro vai fazer bem feito. Mas não basta apenas confiar: precisa dizer explicitamente que confia. Lembre-se: liderar não é exercício de adivinhação: é explicitar as mensagens. Liderar não é um gesto discreto: é explícito.
Confiança em si mesmo:
Há também o outro lado. Líderes inseguros muitas vezes se agarram à execução como um colete salva-vidas. Têm medo de que, se apenas influenciarem, percam relevância ou o controle da situação. Por isso, o equilíbrio exige autoconfiança: saber que, mesmo não estando diretamente à frente de tudo, seu valor está na capacidade de mobilizar.
Confiança construída com feedback:
Segundo a base de dados da Winx, nas empresas com alta frequência de feedbacks consistentes (aqueles que alinham expectativas, reconhecem avanços e abordam pontos de melhoria com respeito), o nível de engajamento declarado é, em média, 28 pontos percentuais mais alto do que naquelas em que o feedback é ausente ou esporádico.
Além disso, o eNPS (Employee Net Promoter Score), que mede o grau em que os colaboradores recomendariam a empresa como lugar para trabalhar, cresce até 3 vezes mais em equipes onde o líder é percebido como alguém que sabe equilibrar bem execução e influência, que usa o feedback como ponte entre as duas coisas.
A régua prática: as três perguntas-chave
Sempre que estou com um líder diante desse dilema, costumo sugerir três perguntas:
Essa tarefa precisa da minha ação direta para ganhar tração ou escala? (Se sim, execute.)
Há alguém que pode fazer isso tão bem ou melhor do que eu? (Se sim, influencie.)
Minha ação aqui está empoderando ou sufocando? (Se sufoca, é hora de influenciar e soltar.)
Influência é ação, não omissão
É importante lembrar: influenciar não é se omitir. É uma forma elevada de ação. É escolher mover por inspiração, por direção estratégica, por cultura. É o que grandes líderes fazem: não colocam apenas a mão na massa: colocam o sentido na massa.
Peter Drucker dizia que “liderança é levantar a visão de uma pessoa à altura de um propósito maior”. E isso não se faz apenas com execução: se faz, sobretudo, com influência. Mas quando o barco ameaça afundar, ou a equipe ainda não está pronta, a execução direta é um gesto de responsabilidade. Às vezes, o melhor jeito de ensinar alguém a remar é pegando o remo junto.
O que a Winx tem nos mostrado
Nas análises mais recentes feitas pela Winx em organizações de diversos setores, um padrão é cada vez mais claro:
A qualidade da liderança está mais conectada à sua capacidade de inspirar, confiar e desenvolver do que à sua capacidade de fazer tudo sozinho.
E é o feedback regular, respeitoso e construtivo que transforma esse equilíbrio em prática cotidiana.
Em resumo
O equilíbrio entre executar e influenciar não é uma fórmula fixa. É um termômetro da maturidade da equipe e da sua própria confiança como líder.
E esse equilíbrio se constrói, se mede e se aperfeiçoa por meio do feedback: uma das principais pontes entre execução e influência, e uma das alavancas mais poderosas do engajamento.
Por Por Brasília
Fonte Exame.
Foto: siraanamwong/Getty Images
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